Estava perdidamente apaixonada por dois homens diferentes. E não poderia haver dois homens diferentes mais diferentes um do outro como eles dois no mundo. Se por um temia o encontro por receio e insegurança o outro só a fazia sonhar e sentir borboletas no estômago. Se por um se preocupava e sentia falta e se divertia com a cumplicidade bem humorada enquanto não se sentia totalmente a vontade por não estar sempre feliz sentia que com o outro estaria sempre tudo bem por ele ter sempre o controle da situação lhe protegendo e guiando. Gostava de ser conduzida.
A verdade é que queria tudo. E os dois são tudo o que ela não era e, em sua estranha mania de se conter em mil lances infinitos de mil faces outras daquela que se revela, pertencia aos dois e só deles poderia ser porque não há vida longe daqueles por quem amanhecia e anoitecia.
Sentia que um deles amava qualquer coisa que tinha que parecia deixar tudo mais simples, enquanto o outro lhe admirava a inconstância e para ela queria representar o peito onde ela se encostaria com a filha enquanto lhe acarinhava as ondas castanhas de seus cabelos. Um lhe deixava ter controle total de sua vida o outro lhe conduzia rumo à felicidade. “Gosto de ser mandada…” pensou com um sorriso sacana enquanto se escondia de um para estar com outro. Por vezes chegou a duvidar de seu próprio sentimento e se recusou a responder recados na secretária eletrônica. Queria e não queria. Sabia que era errado mesmo não havendo oficialidade em nenhuma das relações. Não queria ferir ou enganar seu próprio instinto e seu instinto lhe dizia que era os dois a quem amava.
Queria a alegria descontraída e inteligente de um e o outro lhe parecia irresistível de boxer preta; se um lhe forçava a tomar decisões por ser um homem e querer que ela fosse mulher, o outro lhe conduzia por onde julgasse mais apaixonado para ela, pois ela era a sua princesa.
No jogo em que um homem ótimo ama uma mulher que não ama ninguém só ela ganha. Ser amada é um presente. Amar também. E não é dado a todos. Quando se é uma mulher que ama dois homens e por eles é amada o problema é maior. Estados monogâmicos por vezes me irritam. Nem ela se permitiria ter os dois. Digo ter porque já pertencia aos dois e não imaginava sua figura livre destituída de qualquer deles.
Quando se é uma mulher que ama dois homens e não se permite liberar aqueles instintos mais profundos de qualquer amor maior somente ela perde. Por sentir que engana os dois sem enganar ninguém. Por amar os dois sem ter nenhum. Por saber que precisa escolher e ter certeza de que não amará menos nenhum deles. Por ser inteira, completa, serena e plena por se saber pertencer aos dois exatamente na mesma proporção. Por saber que escolhendo qualquer deles não será novamente plena e ainda assim amar os dois.