Ela tinha a lua no tornozelo. E a lua do tornozelo dela lhe fazia sentir as ondas, lembrar do mar. E ela sorria enquanto caminhava em câmera lenta e como num clipe de cinema, era ela que fazia ele desviar o caminho pra ver as ondas do mar de cabelos castanhos dela caminhando na beira da praia.
Foi por ela que começou a surfar, pra que ela também o olhasse e durante os melhores tubos que pegava, era na lua no tornozelo dela que pensava. Eram dela os troféus que ganhava. Não sabia onde a lua do tornozelo dela ia depois da praia, ou de onde vinha. Sabia que a lua estava no tornozelo dela e que o sorriso dela era o sol do seu dia.
Sabia que ela estudava teatro, inglês, seu nome e que queria ser médica, mas amava o balé. Sonhava em vê-la dançando mas tinha dificuldade de imaginar a moça da lua no tornozelo da praia sem os vestidos leves de saída de praia dela, sempre leves e esvoaçantes. Não havia praia sem ela e nisso passava seus dias a contemplar e esperar por ela, a lua de seu tornozelo lhe indicando o rumo a seguir.
Um dia a viu fora da praia, e ao primeiro olhar na lua do tornozelo dela, o asfalto se desfez em areia e o barulho da cidade virou ondas do mar. Foi quando entendeu que a praia que ele tanto amava, era ela quem trazia.
N.A. Fico devendo a foto da minha tornozeleira nova.